Não, não. Eu (ainda) não estou (muito) louco. Acontece que o Presidente da França anda fazendo declarações loucas estúpidas perigosas polêmicas em suas viagens pelo mundo. Em uma visita de negócios pela Arábia Saudita, para conseguir a assinatura de importantes (leia-se lucrativos) contratos de exportação, ele exagerou em elogios ao islã.
Foi na Segunda-feira da semana passada, em Riad, quando o desgramado proferiu, por exemplo, a seguinte asneira sobre o islã: "uma das maiores e mais belas civilizações que o mundo já conheceu". E isso não é nem o começo da polêmica.
Quando o fulano era Ministro do Interior, sugeriu que devia ser criado um "Islã da França", e que fossem finaciados templos para as confissões não-católicas, principalmente para os muçulmanos. A ele se deve a criação do Conselho do Culto Muçulmano.
Quem deve estar dando pulos de alegria, extasiadas com as declarações do seu querido Presidente, são as francesas.

O Sarkozy está tentando incluir a religião ao Estado. Ele diz que "A vida do homem não tem apenas uma dimensão material, para o homem não basta comsumir para ser feliz. Uma política de civilização, é uma política que integra a dimensão intelectual, moral e espiritual."
Ah, sabe o que significa islã em árabe? "Submissão à vontade de Deus". Lindo, não?
Ele, o Sarkozy, decidiu, por exemplo, que os representantes das principais religiões façam parte do Conselho Económico Social, um dos orgãos de consulta mais importantes do Estado.
Quando ele foi a Roma visitar o Papa, em Dezembro do ano passado, disse: "na transmisão dos valores e no aprendizado da diferênça entre o bem e o mal, o instrutor nunca poderá subtituir o sacerdote ou o pastor, mesmo que seja importante que ele se aproxime porque sempre lhe faltará a radicalismo do sacrifício da própria vida e o carisma de um compromisso baseado na esperança. Um homem que acredita é um homem que espera. E o interese da República é que existam muitos homens e mulheres que esperem."
Ele quer uma "laicidade positiva" e que as religiões não sejam consideradas como um perigo. Então, primeiro que nada, ele deveia ter omitido a parte do radicalismo. Além disso, como disse o socialista Jean Glavany: "Um discurso que cita a Deus, não apenas em todas as suas páginas, mas em todas as suas frases, cria um problema fundamental para a República". Realmente, um absurdo.
Essa baboseira de "homem que acredita" e "homem que espera" é o que mais me assusta. Essas eram as caracteristicas da sociedade da Idade Média, que viveu no Obscurantismo. Todos acreditavam em Deus (por vontade própria ou pela força) e como conheciam a sua personalidade egocêntrica e vingativa, temiam-no. Logo, ninguém desafiava o poder político estabelecido, pois este estava íntimante ligado ao religioso.
Nas pequenas cidades, não eram necessários soldados para manter a população controlada; a maioria era fanática religiosa e, liderada pelos padres, matava, queimava na fogueira ou torturava qualquer um que se cansasse de esperar a salvação divina, e ousásse desejar uma sociedade melhor, livre dos dógmas da igreja ou da opressão dos monarcas.
Esse tipo de gente é a que o senhor Presidente da França descreveu. Gente que não pretenda muito da vida, que espere, espere e espere até o dia da sua morte. Assim, a república será tranquila e estável, mesmo que conformada por indivíduos crédulos, ignorantes e sem nenhuma perspectiva de vida.
Inclusive, um grandíssimo idiota, o líder centrista François Bayrou (católico), disse: "pensei que esta idéia da religião como distribuidora de esperança, a que faz os povos ficarem tranquilos, tinha ficado prá trás."
Os religiosos, não importa qual a sua crença, dizem que precisamos de um Deus para ter esperança, para ter um bom coração e ser boas pessoas, para ter paz e um mundo tranquilo. Quem acha que não podemos ter essas coisas sem a existência de um Deus, pra mim, é um ignorante que não quer ser responsável pela própria vida, pelo próprio destino, e muito menos pelo da sua sociadade.
Esperar, esperar e esperar é muito fácil; essa atitude é de covardes que tem medo de errar. Fazer da vida o que a gente quer que a vida seja é difícil, mas vale a pena tentar, e só então podemos dizer que realmente somos livres.
Um dos pontos mais interessantes dessa história toda é que o Sarkozy quer transformar o país em uma França religiosa (católica) mas seu comportamento está muito longe de ser o de um bom cristão. Eu espero que ele não consiga seu objetivo, porque esse tipo de merd* acaba virando moda.
Fonte: El País e Reuters
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